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Pistola Bergmann-Bayard

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Muitas pessoas ligadas ao colecionismo de pistolas militares se pergunta por que razão, em 1908, um fabricante desse tipo de arma ainda insistiria em um projeto que utilizasse um carregador de cartuchos posicionado defronte ao guarda-mato e com capacidade limitada em 6 cartuchos. Pois exatamente isso aconteceu com a pistola Bergmann-Bayard, conhecida como modelo 1908 (ou 1910 dependendo de seu contrato de dotação). A essa altura do cenário, a Mauser C96 já era bem mais conhecida e difundida em vários países do mundo, oferecendo um calibre potente e com capacidade para 10 cartuchos, usando a mesma solução de carregador posicionado defronte ao guarda-mato.

Voltando no tempo, em 1880, o inventor Theodor Bergmann já produzia em sua fábrica de Gaggenau, na Alemanha, equipamentos para recarga de cartuchos de espingardas de caça e magazines para rifles, bem como acessórios para diversos outros fabricantes. Paralelamente, desenvolvia equipamentos de sinalização para ferrovias e ferramentas domésticas. Associando-se à Otto Brauswetter em 1892, um ano antes do lançamento da famosa pistola de Hugo Borchardt, que levou o seu nome, Bergmann lançou uma pistola que lembrava em muito o desenho de um revólver, principalmente pelo fato de utilizar uma placa lateral que cobria todo o seu mecanismo de disparo e pelo formato da empunhadura. Posteriormente, em 1893, coube a outro renomado inventor a tarefa de aprimorar essa arma. Em 1894, Louis Schmeisser e Theodor Bergmann inovam com o lançamento da pistola modelo 94, que ficou conhecida como Bergmann-Schmeisser . Dois anos depois, em 1896, Bergmann lança a pistola modelo 3, nos calibres 5mm, 6,5mm e 8mm, que viria a ser a primeira pistola de culatra livre (blow-back) da história, e a primeira que, realmente, oferecia condições para um porte mais dissimulado, devido ao seu tamanho.

Os modelos das pistolas de Bergmann, entre os anos de 1892 até o lançamento da Bergmann- Bayard em 1908, serão objeto de um artigo específico, nessa mesma série.

 

A pistola Bergmann Nº 3, em calibre 6,5mm, a primeira semi-automática no sistema “blow-back” lançada no mundo, em 1896.

A maior intenção de Bergmann era conseguir a adoção de suas armas por diversos países, principalmente para uso militar. Então, outros modelos se seguiram, sendo que em seguida vários países efetuaram testes no intuito de avaliar algumas das pistolas existentes. Um dos mais importantes testes ocorreu nos Estados Unidos, em 1901, mas sem sucesso para a Bergmann. Após essa frustração, finalmente em 1903 a Espanha resolve adotar a pistola Bergmann-Mars M1903, se tornando o terceiro país do mundo, depois de Suíça e Bélgica, a adotar uma pistola semi-automática para uso militar.

Porém, as coisas não andavam bem para a Bergmann. Depois dos fracassos obtidos nos testes de 1901, um agente da Bergmann nos Estados Unidos, P.J. Streit, escreveu ao Army Chief Ordnance norte-americano solicitando a participação da Bergmann-Mars, em calibre 11,35mm, para os testes que se realizariam em 1903. Aparentemente, ao que se sabe, não houve nenhuma resposta positiva nesse sentido. Para piorar a situação, em 1904, uma das fornecedores da Bergmann, a empresa V.C. Schilling, foi adquirida pela Heinrich Krieghoff Waffenfabrik e interromperam, por força de contrato, o fornecimento de pistolas. Dessa forma, o contrato espanhol corria perigo, pois Bergmann, em Gaggenau, não possuía capacidade ociosa para suprir essa demanda adicional.

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A Bergmann-Bayard, fabricação da Anciens Etablissements Pieper de Herstal, Bélgica, com seu cartucho 9mmX23 Bergmann, ou 9mm Largo (foto do autor, coleção particular)

Bergmann sabia que muitas modificações seriam necessárias para que suas pistolas fossem melhoradas. Foi quando a Societé Anonyme Anciens Etablissements Pieper, da cidade de Herstal, na Bélgica, com muita tradição em armas militares, se ofereceu para elaborar um projeto em cima do já existente. Infelizmente nessa época, a empresa havia perdido seu contrato com o Exército Belga para a sua concorrente Fabrique Nationale D’Armes de Guerre, a famosa F.N. Porém, o contrato espanhol ainda compensava o investimento e finalmente, em 1908, apresentaram a nova pistola Bergmann-Bayard.

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A pistola Bergmann-Bayard 1908, em calibre 9mm Largo, tal qual fornecida para o contrato Espanhol. O Calibre 9mm Largo era a denominação espanhola para o 9mm Bergmann-Bayard (9×23)

Durante a I Guerra Mundial, com a ocupação da Bélgica pelos alemães, a pistola manteve sua produção e chegou até a ser utilizada por algumas tropas do país invasor. Após o término do conflito, e somando-se o relativo sucesso obtido no uso militar pela Espanha, a Pieper conseguiu, em 1921, fechar um contrato de fornecimento para a Dinamarca.

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Pistola Bergmann Bayard com o ferrolho aberto.
Note a pequena tecla no interior do guarda-mato, que libera a retirada do carregador. (foto do autor)

Assim mesmo, em 1922, a direção da Pieper decide que a sua atividade de fornecimento de equipamentos militares não era mais interessante e abandona o mercado. A Dinamarca decide então fabricar a pistola por si mesma, devido à grande quantidade já em uso naquele país. Uma das particularidades que chamam a atenção nos modelos dinamarqueses são as talas que, originalmente eram feitas em madeira e foram substituídas por “Trolit”, um material similar ao baquelite.

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Soldado dinamarques, na II Guerra, se defendendo com uma pistola Bergmann

Essas Bergmanns são conhecidas como modelos 10/21. Mais de 2.000 armas como essa foram produzidas no país. Em 1946, após o fim da II Guerra, a Dinamarca decide abandonar o uso das pistolas Bergmann a favor das novas, e muito mais modernas, Browning modelo 1935, as famosas Hi-Power.

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Vista explodida da Bergmann-Bayard – a pequena peça em formato de um cubo vazado, vista logo acima do corpo da arma, é a trava de culatra (veja texto) – clique para ampliar.

As pistolas Bergmann eram extremamente bem feitas, com materiais de primeira qualidade, acabamento aprimorado, possibilitando alta durabilidade. O magazine frontal podia ser removido da arma, por baixo, liberado por uma pequena trava dentro do guarda-mato, ao contrário da Mauser C96 que possuía magazine fixo. Sua capacidade era limitada a somente 6 cartuchos, muito pouco para uma pistola, mesmo naquela época. Mas, como era o carregador destacável, permitia a utilização de modelos de carregadores maiores com muita facilidade, e os mesmos chegaram a ser utilizados nas versões dinamarquesas, com capacidade para até 20 cartuchos. A arma também aceitava a instalação de uma coronha de madeira, no mesmo estilo usado pela Mauser C96, dentro da qual a arma podia ser guardada.

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A pistola Bergmann totalmente desmontada (Foto do autor)

A desmontagem para limpeza era muito simples, bastando pressionar o percussor e retirar a sua trava, lateralmente. Com a retirada do percussor, um retém que também servia como alça de mira, podia ser extraído por cima do ferrolho, possibilitando a retirada do mesmo, bem como o cano e sua armação. Há pequenas diferenças entre os modelos fabricados em Gaggenau, na Alemanha, e pela Pieper, na Bélgica. O raiamento consistia de 4 ranhuras na versão alemã e de 6 na versão belga. Ao contrário das Mauser, o cano da versão alemã era rosqueado e podia facilmente ser substituído, se necessário. O sistema de trancamento de culatra (locked-breech), necessário devido à potência do cartucho, era muito engenhoso. Uma pequena peça em forma de cubo era trespassado pelo ferrolho. Na face inferior interna do cubo, dois engates se encaixavam em recessos existentes na face inferior do ferrolho (veja vista explodida). Com o curto recuo do cano, esse cubo baixava alguns milímetros, liberando o ferrolho para ser aberto.

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(Foto) A pistola sem a tala esquerda e com a tampa lateral removida. Observem a simplicidade do mecanismo de disparo e o inusitado desenho da mola do cão, em forma de “S”. Essas peças internas podiam ser removidas e limpas com muita facilidade.

Surpreendentemente, o mecanismo de disparo era muito similar a um revólver de ação simples da época. Não havia sequer um desconector para o gatilho, como na maioria das pistolas; isso era feito por um simples sistema de escape. Entretanto não havia uma possibilidade da arma poder ser disparada com a culatra ainda não totalmente trancada. Uma trava de segurança, do lado esquerdo da arma, que podia ser acionada tanto com o cão armado como desarmado. Em qualquer uma dessas posições, se a trava fosse acionada, tanto cão como ferrolho ficavam impossibilitados de serem manuseados. O mecanismo interno podia ser facilmente acessado e lubrificado através da retirada de uma tampa lateral.

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Apesar de seu desenho ser considerado ultrapassado mesmo na época de seu lançamento, nem por isso a Bergamnn deixa de ser uma pistola atraente para os colecionadores. (Foto do autor – exemplar de coleção particular)

O sistema de disparo nesta arma era o de ação simples, ou seja, uma vez estando devidamente municiada com um cartucho na câmara, o cão tinha que ser engatilhado antes do primeiro disparo. Apesar do desenho um pouco desengonçado, a empunhadura é confortável, bem superior à sua “rival” Mauser C96, e a arma consegue ser mantida estável durante os disparos. Graças a sua simplicidade de mecanismo, embora sua manufatura fosse dispendiosa, a pistola era pouco sujeita à problemas, e isso foi muito bem testado na prática pelo seu extensivo uso, principalmente durante a Guerra Civil Espanhola

Modelo 1910/1921 utilizadas pelo Exército Dinamarques, com talas de madeira lisas ao invés do baquelite, que encobria a trava de desmontagem.

Estima-se em 15.000 a 16.000 a quantidade de armas fabricadas, o que é muito pouco quando se compara à produção de armas contemporâneas à ela, como a Steyr-Hahn, Mauser C96 a as Parabellum. Os países que a adotaram, mesmo que em baixa quantidade foram Dinamarca, Espanha, Grécia e Alemanha. A pistola pesa, descarregada, 1,020kg e mede 254mm de comprimento total, com capacidade de 6 cartuchos em seu magazine padrão. Uma variante dessa arma foi enviada aos Estados Unidos para participar dos US Trials, em calibre .45ACP.

Written by Carlos F P Neto

04/08/2009 às 15:17

12 Respostas

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  1. Fernando, saudações. Respondido por e-mail. Abraços.

    Carlos F P Neto

    28/10/2014 at 11:04

  2. Carlos, possuo uma Bergmann 1896 Mod. 3 (6,5mm). Está em estado de conservação razoável, até que bem pra idade dela e as condições em que estava guardada. Fiz uma “limpeza geral”, nível 3º escalão. TUDO MESMO. Ela está TININDO. Confesso que com marcas da idade, mas TODA ORIGINAL. Como posso te enviar fotos para você avaliá-la e me dizer que valor posso pedir nela? Não é interessante eu ficar com ela, devido a IMPOSSIBILIDADE de conseguir munição adequada. Aguardo seu contato

    Fernando Coelho

    26/10/2014 at 5:13

  3. Giancarlo, um prazer tê-lo como leitor e grato pelos elogios.

    Carlos F P Neto

    24/09/2014 at 12:11

  4. Em primeiro lugar gostaria de parabenizar pelo excelente trabalho q vc vem fazendo. Estou aprendendo mais e a cada dia me interesso mais sobre armas, moro em bh e gostaria de saber se tem curso de armeiro em bh e se civil tbm pode fazer esse curso? Grato pela atencao e boa noite

    Giancarlo

    23/09/2014 at 23:23

  5. Giancarlo, a pistola Bayard 1908 foi produzida pela casa Anciens Establissement Pieper, de Herstal, na Bélgica, em 3 calibres: 6.35mm, 7,65mm e 9mm Curto (380). Foi desenhada por Bernard Clarus, que patenteou na Inglaterra em 1907, e o sistema é “blowback”, ou seja, a culatra se abre livremente somente retardada pela ação de uma mola. Sua produção chegou até 1930 e teve um relativo sucesso de vendas, apesar da sua concorrente da F.N. vender muitíssimo mais. No calibre 380 ela era a menor pistola de sua época, mas tinha a limitação de capacidade de 5 cartuchos. Como todas as armas produzidas pela Pieper, a 1908 era muito bem acabada e de materiais de primeira qualidade.

    Carlos F P Neto

    20/09/2014 at 12:53

  6. Boa tarde, tenho uma bayard modelo 1908 cal 765 e gostaria d saber um pouco mais sobre ela

    Giancarlo

    18/09/2014 at 14:39

  7. Aloizio, sem fotografias não é possível, infelizmente.

    Carlos F P Neto

    24/09/2013 at 18:56

  8. Sr. Carlos, tem idéia de quanto valeria uma bergmann bayard 1908 em ótimo estado de conservação? É a fabricada pela Anciens.

    aloizio

    24/09/2013 at 18:39

  9. Roberto, nem todas eram em calibre 9mm, havia grande variedade de calibres. Abraços.

    Carlos F P Neto

    06/06/2013 at 19:45

  10. Boa noite, Sr. Carlos Muito obrigado pelas informações, pesquisei na Web e que a Scheintod Repetier Pistoles é de origem Germânica, produzida entre 1890 e 1920, seu calibre é de 9 mm, tudo de bom do bem.

    roberto santos

    05/06/2013 at 20:45

  11. Roberto, o que sabemos é que a Coluna se armava como podia, e com o que encontrasse, inclusive recebendo doações em armas e munições, de simpatizantes. Sobre a pistola Scheintod, parece existir em mãos de particulares ou museus, um ou mais exemplares que podem ter sido utilizados. A variedade de armas era enorme e sem padronização nenhuma. A Scheintod dispara cartuchos calibre 36, são de alma lisa, com 3 canos sobrepostos e a cada pressionada do gatilho, um cano é disparado. Um abraço.

    Carlos F P Neto

    05/06/2013 at 14:09

  12. Boa noite, andei lendo um artigo sobre a Coluna Prestes, e foi escrito que a aposição usava uma arma com três canos vertical, Scheintod repetier pistole, pode me falar a respeito.

    roberto santos

    05/06/2013 at 2:01


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