Pistola Steyr-Hahn (Rev. 1)
A STEYR HAHN
A Steyr-Hahn, ou “Steyr de cão”, foi a arma curta de dotação oficial dos exércitos do Império Austro-Húngaro e da Romênia, em 1912, antes da eclosão da I Guerra Mundial, em 1914. Essa denominação “Hahn”, que significa cão ou martelo, deve-se ao fato de diferenciá-la da sua antecessora, a Roth-Steyr mod. 1907, arma que não possuía um cão externo. Porém, a Steyr-Hahn herdou dela algumas particularidades, infelizmente negativas, como o sistema de magazine embutido na empunhadura, com carregamento via “clip” pela parte superior da culatra.
Foto: A Roth-Steyr mod. 1907
Começou a ser produzida em 1911, pela Waffenfabrik Steyr, uma empresa que já possuía boa reputação na fabricação de armas e contava, em seu quadro de colaboradores, com alguns gênios, como Ferdinand Ritter von Mannlicher e Otto Schönauer. O projetista principal da arma foi o engenheiro Karel Krnka. Essa arma representou uma enorme evolução sobre a Roth-Steyr, modelo 1907, até então a pistola adotada pelo exército da Áustria e que era indiscutivelmente inferior. Para ela, desenvolveu-se um cartucho novo, o 9mm Steyr (9×23), exatamente a mesma medida do seu contemporâneo 9mm Bergmann-Bayard, do qual falamos no artigo sobre aquela pistola. Durante a anexação da Áustria em 1938, o Exército Alemão chegou a adotá-la para seu próprio uso naquela região, transformando-as em 9mm Parabellum (9×19).
Foto: Comparação dos cartuchos 9mmX19 Parabellum (Luger) com o 9mmX23 Steyr. A diferença de dimensões é só na altura do cartucho. Este cartucho 9mm Steyr, de 1918, possui o projétil encamizado em aço. (Foto do autor, coleção particular)
Essas armas modificadas foram carimbadas com as letras P08, ou simplesmente 08, para identificá-las das originais, e recebeu o nome oficial de Pistole Model 12(Ö). A letra “Ö” é oriunda da palavra Österreich, que significa Áustria na língua alemã. A arma funcionou sem problemas com essa transformação, uma vez que a potência do cartucho 9mm Parabellum era similar à conseguida pelo 9mm Steyr. Historicamente, e nos meios colecionistas, a arma é mais conhecida como Steyr-Hahn, ou seja, Steyr “de cão”.
Seu funcionamento era no sistema de ação simples, ou seja, o cão externo tinha que ser armado antes do primeiro disparo, uma vez que já se estivesse com um cartucho na câmara. A única trava de segurança existente era uma pequena alavanca do lado esquerdo, próxima ao cão, que podia ser acionada com a arma engatilhada. Não possuía uma trava de empunhadura, nos moldes que se vê nas pistolas Colt 1911.
A pistola Steyr 1912, modelo transformado para 9mm Parabellum, e seu carregador para 8 cartuchos. (Foto do autor, coleção particular)
O sistema de trancamento de culatra (locked-breech) era bem interessante, consistindo em um cano giratório, composto de estrias helicoidais e de dois engates que se encaixavam na armação e no ferrolho, respectivamente. Na ocasião do disparo, e com o curto recuo do cano (cerca de 8.0 mm), seu movimento giratório fazia com que os engates do cano se soltassem do ferrolho, liberando assim seu movimento.
Vista explodida da Steyr 1912 onde pode-se notar o cano giratório e seus engates. Veja também o detalhe do carregador embutido, monofiliar, para 8 cartuchos.
Uma das maiores falhas de projeto dessa arma foi, talvez, o seu sistema de carregador fixo, embutido na empunhadura, uma solução já ultrapassada nessa época, visto que algumas pistolas de uso militar, como a Parabellum, a Colt 1905 e mesmo a 1911 já possuíam carregadores destacáveis. O municiamento tinha que ser feito através de uma lâmina (clipe), muito similar à utilizada nos fuzis Mauser e na pistola Mauser C96, com capacidade de 8 cartuchos, que se encaixava em um recesso na parte superior do ferrolho. A trava de segurança lateral tinha que ser acionada para manter o ferrolho aberto. Uma vez empurrados os cartuchos para o interior da arma, esse clipe era retirado e a trava era liberada para que o ferrolho se fechasse. Era possível municiar a arma sem a utilização de um clipe, mas o trabalho requeria uma certa habilidade.
Uma imagem em Raios-X onde se observa o cano com ranhuras e os respectivos encaixes no ferrolho e na armação.
Aqui, numa visão em Raios-X do lado esquerdo, percebe-se a culatra trancada, com os ressaltos do cano devidamente encaixados no ferrolho. Note também a peça que servia como retém dos cartuchos, bem como a sua mola, alojadas do lado esquerdo da empunhadura.
Através de uma pequena tecla existente do lado esquerdo da arma, posicionada logo acima da tala da empunhadura, liberava-se o retém dos cartuchos; dessa forma era possível desmuniciá-la de uma só vez, apesar de que se deve tomar muito cuidado para conter os cartuchos que, por ação da mola, saltam do carregador violentamente. Outra característica negativa da Steyr pode ser atribuída à sua empunhadura, desenhada em ângulo muito reto em relação à linha do cano, o que atribuía à ela a possibilidade de um tiro instintivamente baixo. Porém, é interessante citar a semelhança que havia no desenho dessa pistola em relação aos modelos da Colt que antecederam a famosa 1911, como o modelo 1902 e 1905, que também possuía o mesmo tipo de ângulo de empunhadura.
A Steyr Hahn com o ferrolho aberto e sendo municiada com seu clipe de 8 cartuchos, no caso 9mm Parabellum. (Foto do autor, coleção particular)
Alguns especialistas acreditam que a Steyr-Hahn, se não fosse pelo sistema de carregador fixo, poderia ter se tornado uma arma muito mais utilizada e mais bem aceita no mundo, mantendo-se em produção por um período de tempo mais duradouro. Após a II Guerra, algumas dessas armas foram lançadas comercialmente na Europa, com acabamento mais refinado e com a inscrição WAFFENFABRIK STEYR no ferrolho, seguida de marcas de prova austríacas.
Apesar de certos problemas oriundos do projeto, como já descritos, a arma foi adotada como pistola de uso individual pelos exércitos do Império Autro-Húngaro, depois pela Áustria, pela própria Alemanha durante a ocupação da Áustria, pela Romênia e pelo Chile. Participou dos cenários das duas Grandes Guerras.
A Steyr-Hahn e seu cartucho original, o 9×23 Steyr. (Foto do autor)
A desmontagem dessas pistolas para manutenção e limpeza é muito simples. Remove-se o retém próximo à boca do cano, deslizando-o para um dos lados, liberando assim o ferrolho, que deve ser puxado para trás e levantado para fora de suas guias. A mola recuperadora mantém-se dentro do alojamento e pode ser retirada sem nenhuma dificuldade, assim como o cano. A desmontagem do restante da arma deve se limitar à pessoas com um certo conhecimento técnico e munida de ferramentas adequadas.
Pistola Steyr-Hahn datada de 1911, com o brasão de armas do Exército Chileno.
A Steyr-Hahn completamente desmontada (Foto do autor)
Apesar de possuir alguns detalhes desfavoráveis, a Steyr-Hahn provou, em sua utilização militar, ser uma pistola de alta confiabilidade, sujeita a poucos problemas, disparando um cartucho preciso, de grande penetração e potência para a sua época. Sua mecânica simples e a escolha de materiais de excelente qualidade, a tornaram uma arma extremamente durável.
Entretanto, é conveniente se tomar certas precauções ao se utilizar essa arma, principalmente as que foram convertidas ao cartucho 9X19 (Parabellum), com cargas utilizando-se pólvoras modernas. Embora o cartucho 9X23 era muito equivalente ao 9mm Luger da época, tal fato hoje não é mais verdade. O autor efetuou uma dezena de disparos num exemplar da arma, utilizando-se cartuchos 9mm Luger de fabricação CBC, para uso militar, e verificou que já ocorria uma sensível deformação nos “lugs” de travamento existentes no cano da arma.
Modelo datado de 1918, produção de pós guerra com acabamento mais esmerado, endereçadas ao mercado civil.
Aliás, via de regra, esses cuidados devem ser tomados sempre que se pretende utilizar armas antigas com munição moderna. A arma deve ser cuidadosamente examinada a procura de materiais que já sofrem de fadiga, trincas, desgastes, etc. É natural e faz parte do gosto e da atividade de colecionismo o interesse em se disparar armas de coleção. Porém, tudo deve ser bem acompanhado de perto por pessoas conhecedoras para que se evite a perda ou dano irreparável da peça ou, o que é pior, ferimentos ao atirador.
RESUMO
A Steyr-Hahn foi produzida de 1911 a 1945 na Waffenfabrik Steyr, Áustria, e estima-se em 300.000 armas a produção total. Seu peso descarregada é de 1,200 Kg, mede 216mm de comprimento, capacidade de 8 cartuchos calibre 9X23 (9mm Steyr) ou 9X19 (9mm Parabellum), carregador fixo na arma, miras fixas, trava de segurança lateral somente para a posição de cão armado. As placas são de madeira, zigrinadas em toda a totalidade, com pequena borda lisa, fixadas com um parafuso na base. Sistema “Locked-breech”, funcionamento por curto recuo e rotação do cano, pela ação do recuo resultante do disparo; alcance útil de cerca de 50 metros.
Olá, na verdade o estojo 38 Super ou 38 ACP é mais curto, cerca de 3mm, do que o 9X25, então você terá problema com o headspace uma vez que são estojos sem aro. Estojos 38 ACP antigos eram semi-aro, talvez possam dar certo na Steyr uam vez que seu cano não possui rampa de acesso pronunciada, mas são estojos raros. Já vi Steyr convertidas para 9mm Parabellum com a inserção de um anel no interior da câmara, algo meio complicado de se fazer. Mas funcionava. Porém, cuidado com a pressão que no 9MM Parabellum é muito mais elevada que no 9mm Steyr.
Carlos F P Neto
05/09/2022 at 11:38
É possível reproduzir o cartucho 9 mm Steyr utilizando o estojo do 38 Super? Acabei de adquirir uma Steyr 1911, e quero fazê-la falar.
Flávio
18/08/2022 at 18:33
Sobre a pistola Steyr “Hahn”, interessante mencionar dois fatos históricos:
1 – O ás da aviação germânica Manfred von Richthofen, o “Barão Vermelho”, tinha como arma de porte uma Steyr “Hahn” com carregador alongado para 20 cartuchos.
2 – Segundo o livro “Os Grandes Atentados da História”, uma Steyr “Hahn” foi usada no assassinato do chanceler austríaco Engelbert Dollfuss, em 25 de junho de 1934.
Erick Tamberg
01/06/2016 at 16:43
Nossa, super interessante a PISTOLA STEYR-HAHN
mauro rufino
11/12/2013 at 14:24